domingo, 20 de julho de 2014

'Cheguei onde estou por caminhos que não planejei. É um lugar feliz com o qual nunca sonhei.'

Rubem Alves

domingo, 13 de julho de 2014

Carta de uma professora da rede pública a Excelentíssima Senhora Senadora Ana Rita,



Sou professora das redes municipal e estadual em Goiânia e vi com muita tristeza e apatia seu projeto de lei que tramita no Senado. A senhora diz no projeto que é gritante o número de adolescentes que chega ao final do Ensino Médio sem saber interpretar corretamente um texto e joga a culpa desse fato no professor. Lamentável.
De fato a senhora pretende que se resolva o problema de décadas de educação pública de baixa qualidade com “um simples projeto de lei que exija capacitação rigorosa de mestres”, usando suas palavras. Seu texto dá a noção errônea que a culpa é nossa, professores do ensino básico brasileiro.
A senhora veja, que não se menciona como raiz do problema turmas super lotadas, livros didáticos de baixa qualidade e o pouco (ou nenhum) acompanhamento da vida estudantil das crianças por sua família. A culpa, ao que parece, é apenas do professor.



No seu projeto de lei a senhora diz “A prática do abuso da carga de trabalho - vista como uma solução momentânea ou futura para a baixa remuneração - exige que seja disciplinado o "direito" ao acúmulo de cargos, expresso no inciso XVI do art. 37 da Constituição" (p. 5). A senhora acertou em diversos pontos, porque em meu caso particular, recorri a dupla jornada por conta de minha baixa remuneração. Entretanto, falamos de um país em que governantes encontram artimanhas legais para NÃO reajustar o piso de acordo com a lei. Lembremo-nos que no fim do ano passado os governantes entraram naJustiça, alegando não ter “condições” de dar o reajuste que o custo-aluno impunha e, pior, conseguiram!
A senhora imagine a situação em que eu — que muito estudei para passar em meus concursos — seja obrigada pela aprovação de sua lei a abandonar um de meus empregos. E nesta situação hipotética o governante entre na Justiça, alegando não ter meios a fim de pagar a mim os vencimentos que fiz jus anteriormente, quando trabalhando o dobro? Que farei eu então? Senhora Senadora, observe que o projeto não impede que este fato ocorra.
No projeto a senhora diz ainda que se criará “Dispostivo adicional da proposta indica que a União será a responsável por repassar à rede pública que se sinta prejudicada os recursos financeiros compensatórios”. Veja a senhora que o mesmo ocorre com o pagamento do Piso dos Professores, na lei, mas na prática vê-se um show de horrores, onde governos fazem o que querem com a carreira dos professores. Temos diversos estados em que não se paga o Piso Nacional e por qual sanção passaram estes governantes?
A senhora culpa os professores pelo analfabetismo funcional quando afirma "já foi registrado seu despreparo, que, em casos extremos, embora cada vez mais raros, chega a beirar o analfabetismo funcional. Ora, isso tem sido possível pelo grau de descontrole da competência dos mestres em muitas redes de ensino”. Observe que a culpa não é da obrigatoriedade de aprovação dos alunos, ou de algumas propostas que somos obrigados a engolir, como os Ciclos de Formação Humana, que matriculam automaticamente o estudante na série seguinte. Não, a culpa é do professor mal formado. Será?
Continuando com a culpabilização do professor a senhora afirma que "os estágios probatórios são meramente formais, em que um comportamento passivo e submisso vale mais que o crescimento profissional que deve caracterizar os anos iniciais de um trabalho estável" (pg. 6). Em outras palavras afirma que o período probatório não passa de faz-de-conta. Sou obrigada a fazer um pequeno desabafo, porque enquanto professora recém- empossada, recebi pouquíssima ou nenhuma ajuda de meus superiores, em minhas dúvidas sobre planejamento, domínio de classe, apoio da família, etc, mas todos me cobravam que fosse excelente. Ademais é preciso citar o mau hábito de se dar aos novos professores as piores turmas, que nenhum outro professor deseja. Não é curioso?
A senhora continua, afirmando que o professor passará por avaliação acerca de seus progressos culturais e didáticos, segundo diretrizes nacionais. Quem fará essa avaliação? Como professora, outro desabafo. A senhora sabia que estas avaliações são usadas contra nós, no ambiente escolar? Pergunte a qualquer professor e ele dirá a senhora que foi pressionado a fazer determinadas coisas, para não ser prejudicado em sua avaliação. Qual a formação dos avaliadores? Qual sua relação com o professor avaliado?
Por último, gostaria apenas de expressar minha decepção pela pesquisa rasa feita pela senhora e sua equipe, que pouco — ou nada, eu diria — pesquisaram sobre a importância da formação continuada para os professores. Doutores como Maria Vera Candau, Selma Garrido Pimenta, o falecido Valter Guimarães, Maria das Graças Nascimento, Maurice Tardif, José Tavares, Sonia Kramer e outros tantos, que dedicam e dedicaram sua vida acadêmica a estudar a importância e peso que esta formação continuada tem na docência.

Atenciosamente, professora Thais Rodrigues

terça-feira, 8 de julho de 2014

Des-destorcer a relação



Minha relação com Deus é fundamental para minha vida. Eu e Ele temos um longo percurso de caminhada juntos. O que Ele pensa sobre a vida, sobre mim são muito importantes.
Mas essa não era uma relação das mais saudáveis, porque era dominada mais pelo medo do que por qualquer outro sentimento. Eu tinha medo de que eu não fosse boa o suficiente, basicamente. Mas desse vieram outros...
Mas eu nunca fui do tipo que se acovarda. Tem uma coisa no meu DNA ou na minha personalidade, não sei, mas que me desacomoda. E isso era maior que eu, então eu comecei a procurar...
“Emancipate yourselves from mental slavery, 
none but ourselves can free our minds”
Bob Marley, Redemption Song.
Uma das coisas que mais me impressionou nessa caminhada, foi descobrir que o amor de Deus por mim não estava condicionado a quão boa, santa, bem comportada ou bem sucedida eu seria. Deveria ser óbvio sabermos disso, mas por conta dos inúmeros desvios teológicos que a igreja brasileira vivencia, não é. Vivemos um tempo de tomal-lá-da-cá com Deus. Mas gente, isso não faz sentido algum.
À medida que fui estudando um pouco mais (menos, muitíssimo menos que o necessário, mas vou em frente) e vi que toda bondade parte Dele, me impressionei! Nossa salvação, por exemplo, vem exclusivamente da vontade de Cristo de nos salvar, porque foi ele quem escolheu se esvaziar e habitar conosco para trazer salvação.
Esse não é um texto (que tenta ser) teológico, é só um desabafo sobre compreensões distorcidas e quão mal isso faz pra alma.
Liberdade é uma linda canção, que precisamos ousar cantar e convidar outros pra cantar conosco. Liberdade é forma de amor, que dá novos formatos às escolhas da vida. É minha canção favorita.
“Quando o Senhor me libertou do cativeiro de escravidão da religião, 
estava como os que sonham – porque mal cria em tanta bondade. 
Então a minha boca se encheu de riso e a minha língua de cânticos novos; 
então se dizia entre quem me conhecia: Grandes coisas fez o Senhor a ela. 

A melhor coisas fez o Senhor por mim, pela qual estou alegre.”
Salmo 126 da Thais
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domingo, 6 de julho de 2014

Mulher de fases



Tem uma aura de mistérios nos trinta anos. Dizem que é a época mais bonita da mulher, onde mais nos tornamos seguras e, como eu precisava desse salto!  Quanto mais se aproxima, melhor me sinto. Me sinto mais segura profissionalmente, sei que sou boa no que faço, tanto quando me é possível com minhas condições de trabalho (que estão longes das ideais, obviamente, porque falamos de Brasil e Educação).
Me sinto menos em crise quando me olho no espelho. Uau! A repercussão da foto de uma garotinha de 10, 11 anos, porque tem uma beleza fora do padrão, no facebook me deixou pensativa. É claro que tem muita gente imbecil no mundo. Isso já é ser redundante, mas as críticas que convivemos na escola... Caramba! São cruéis!
Sim, porque ninguém nunca é bom, bonito ou inteligente o suficiente, sempre tem alguém parar rir ou apontar algo em você que até então estava escondido. Isso define, em geral negativamente, a autoestima dx adolescente em construção. É cruel que uma pessoa cresça com uma visão distorcida de si mesmo e lá se vão anos de ‘selfies’, terapia, roupas super bonitas, maquiagens, tratamentos de beleza e estática pra mudarmos de ideia. Não vou me aprofundar no se funciona ou não, quero mencionar o que geralmente recorremos.
Buscamos auxílio para nos sentir confortáveis conosco. Não é estranho que precisemos de tanta ajuda externa pra nos sentirmos bem?
Ser mulher é uma arte que se aperfeiçoa com o tempo, bem diz Simone que “não se nasce mulher, torna-se”. Trinta anos é isso: se tornar.
Não a mulher que todos querem que você seja. Sim, porque não nos faltam pessoas para dizer como devemos ser. Comportadas, fogosas, complicadas, culpadas, que tipo de mãe, profissional, esposa ou namorada seremos. Mas nos tornamos a mulher que somos: eu de fato gosto de trabalhar? Então o farei. Eu de fato gosto de sexo? Então não mentirei sobre.
Nada é tão simples, nossas escolhas eventualmente afetam outras pessoas, mas elas deixam de ser nossa primeira preocupação. Sim, eu admito era assim: me preocupada muitíssimo com o que as pessoas achariam de determinada coisa que eu faria. E isso sempre era confuso, porque as diferentes pessoas esperavam de mim coisas diferentes. E aí? Me sentia quase sempre uma agente dupla.
Os trinta anos te preparam mais para saber lidar com a expectativa do outro. O brasileiro: ligar o foda-se, sabe? E se sou livre para escolher, dou menos justificativas. Ainda tem na vida alguns companheiros de caminhada, que gostamos que compreendam nossos caminhos, mas não é mais uma cobrança exagerada.
Não virei mulher maravilha nem nada do tipo, só abri mão de agradar gregos, troianos, flamenguistas e vilanovenses e me coloquei em lugar de destaque: Olá, o que penso/sonho/sinto/desejo/espero também conta!